Distraído, Azizi tinha engolido um caroço de cereja
pouco antes de o anjo da morte — que é todo coberto
de olhos — o ter beijado. Depois de morto e enterrado,
do corpo de Tal Azizi cresceu uma árvore. Uma bela
cerejeira, de madeira escura.
(Enciclopédia da Estória Universal — Antologia de Théophile Morel)
- - -
Como é que te vou ouvir se és mudo? Não te preocupes;
cá me arranjo. Aprendi a ouvir as palavras que não se dizem;
e a ler as que se formam na cabeça e juramos não pronunciar.
Imagina simplesmente que falas, e eu ouvir-te-ei. Pensa que
falas, e falarás. Confias em mim?
(Testamento de um poeta judeu assassinado, Elie Wiesel)
- - -
De certeza que já te cruzaste comigo mil vezes, mas o teu
olhar nunca se fixou em mim. Admiras-te? Sou assim: não
atraio a atenção. Sou um camaleão humano ou algo parecido.
Dissolvo-me no que me rodeia, faço parte da paisagem:
não tenho nada em que os olhos se prendam. Tudo em mim
é de tal forma comum que as pessoas olham e não me vêem.
(Testamento de um poeta judeu assassinado, Elie Wiesel)
. . .
Sem comentários:
Enviar um comentário